frase do dia:
Não é possível convencer um crente de coisa alguma, pois suas
crenças não se baseiam em evidências; baseiam-se numa profunda necessidade de
acreditar.
Carl Sagan
Bitaites › No mundo
da Lua › Vale sempre a pena reler Carl Sagan
Marco Santos → 03/11/2011 @3:23
Vale sempre a pena reler Carl Sagan
Para um regular do Bitaites e amante de Astronomia, Carl Sagan dispensa
apresentações. É um astrónomo, mas também um «poeta das
estrelas», como lhe chamou Miguel Gonçalves, coordenador em Portugal
da organização The Planetary Society; é rigoroso, mas não hesita
em deixar-se levar pela imaginação – Sagan é uma referência que me
acompanhará toda a vida.
O capítulo que se segue – «Haverá vida inteligente na Terra?» – foi transcrito do livro «O Ponto Azul-Claro», inspirado na iconográfica fotografia da Voyager de um distante planeta Terra e planeado como uma sequela do célebre «Cosmos: uma viagem pessoal», um livro baseado na série de televisão.
Este livro foi publicado em 1994, dois anos antes de Sagan morrer, mas mesmo a passagem dos anos não lhe tira atualidade e pertinência: talvez porque ele nunca se preocupou em escrever apenas sobre Ciência, mas em partilhar uma visão de futuro que tem tanto de científica como espiritual.
O capítulo aqui transcrito aborda uma situação hipotética: se uma nave de extraterrestres visitasse o nosso sistema solar e investigasse a Terra, que encontrariam eles? Como descobririam a existência de vida? Como seriam capazes de detetar organismos inteligentes?
Ao inverter os papéis e fazer da Terra o objeto das observações, Sagan propõe-nos reconsiderar, com acutilância, imaginação e sentido de humor, o nosso papel no Cosmos e o que andamos a fazer neste frágil ponto-azul claro.
Segue-se então o texto de Carl Sagan, traduzido por Augusto Manuel Marques e Jorge Landeck. As fotografias aéreas são da autoria de Yann Arthus-Bertrand.
Suponha que é um explorador extraterrestre que acaba de chegar ao sistema solar após uma longa viagem através do espaço interestelar.
Examina os planetas dessa estrela banal de longe – uma bela mão-cheia, alguns cinzentos, alguns azuis, alguns vermelhos e outros amarelos. Está interessado em saber que tipo de mundos são estes, se os seus meios ambientes são estáveis ou variáveis e, especialmente, se existe vida e inteligência. Não possui nenhum conhecimento prévio sobre a Terra. Acaba de descobrir a existência dela.
Imaginemos que existe uma ética galáctica: olhar, sim; mexer, não. Podem sobrevoar esses mundos, orbitá-los, mas estão expressamente proibidos de aterrar. Com estas limitações, conseguir-se-ia perceber qual o tipo de meio ambiente da Terra e se alguém lá viveria?
À medida que nos aproximamos, a primeira impressão da Terra no seu conjunto revela nuvens brancas, calotas polares brancas, continentes castanhos e uma substância azulada que cobre dois terços da superfície.
Quando medir a temperatura deste mundo a partir da radiação infravermelha que ele emite, descobre que a maior parte das latitudes está acima do ponto de congelação da água, enquanto as calotas polares são constituídas por água solidificada e nuvens de água sólida e líquida é uma hipótese razoável.
Também poderia ser tentado a pensar que a substância azulada fossem enormes quantidades – com quilómetros de profundidade – de água líquida.
A sugestão é bizarra, todavia, pelo menos no que diz respeito a este sistema solar, porque não existem oceanos superficiais de água líquida em nenhum outro planeta.
Quando inspeciona o espectro visível e infravermelho próximo em busca das assinaturas reveladoras da composição química, descobre, com toda a certeza, água nas calotas polares e suficiente vapor de água no ar para justificar as nuvens; essa é precisamente a quantidade adequada que deve existir, devido à evaporação, se os oceanos forem de facto compostos por água líquida. A hipótese bizarra confirma-se.
Os espectrómetros revelam, além disso, que o ar deste mundo contém um quinto de oxigénio, 02. Nenhum outro planeta do sistema solar possui uma percentagem de oxigénio tão elevada. Qual a sua origem?
A luz ultravioleta intensa do Sol divide a água, H2O, em oxigénio e hidrogénio e o hidrogénio, o gás mais leve, escapa-se rapidamente para o espaço. Este é uma fonte de O2, certamente, mas não justifica uma percentagem tão elevada de oxigénio.
Outra possibilidade é a luz visível ordinária, que o Sol emite em grande abundância, ser utilizada na Terra para dividir a água – contudo, este processo só é possível se houver vida.
Teriam de existir plantas – forma de vida coloridas com um pigmento que absorve fortemente a luz visível, que sabem como separar a molécula de água, guardando a energia de dois fotões de luz, que retém o H e libertam o O, e que utilizam o hidrogénio assim obtido para sintetizar moléculas orgânicas. As plantas teriam de cobrir grande parte do planeta.
Tudo isto é pedir muito. Se for um bom cientista cético, tanto O2 não seria uma prova da existência de vida. Mas seria certamente uma boa razão para suspeitar da sua existência.
Com tanto oxigénio, não ficaria surpreendido por descobrir ozono (O3) na atmosfera, porque a luz ultravioleta produz ozono a partir do oxigénio molecular (O2). O ozono absorve, por sua vez, a radiação ultravioleta perigosa. Portanto, se o oxigénio se deve à vida, há uma curiosas sensação de que a vida se protege a si mesma. Mas esta vida poderia ser constituída por meras plantas fotossintéticas. Não está implícito um alto nível de inteligência.
Quando examinamos os continentes mais detalhadamente, descobrimos que existem, falando em termos grosseiros, dois tipos de regiões.
Uma revela o espectro de rochas e minerais comuns a vários outros mundos. A outra revela algo invulgar: um material que cobre vastas áreas e absorve fortemente a luz vermelha. (O Sol, evidentemente, emite luz de todas as cores, com um pico no amarelo.)
Este pigmento pode muito bem ser o agente necessário se a luz visível ordinária estiver a ser utilizada para dividir a água, sendo responsável pelo oxigénio do ar. É outra pista, desta feita um pouco mais sólida, da existência de vida – não apenas um bicharoco aqui e outro ali, mas uma superfície planetária repleta de vida. O pavimento é, de facto, clorofila: absorve luz azul, bem como vermelha, e é responsável pelo facto de as plantas serem verdes. O que está a observar é um planeta com uma densa cobertura florestal.
A Terra revela assim possuir três características únicas pelo menos neste sistema solar – oceanos, oxigénio, vida. É difícil não supor que estão relacionadas, sendo os oceanos os locais de origem, e o oxigénio o produto, de uma vida abundante.
Quando olha atentamente para o espectro infravermelho da Terra, descobre os constituintes menos abundantes do ar. Para além do vapor de água, há dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e outros gases que absorvem o calor que a Terra tenta irradiar para o espaço durante a noite. Esses gases aquecem o planeta. Sem eles, a Terra atingiria em todos os pontos temperaturas inferiores ao ponto de congelação da água. Acaba de descobrir o efeito de estufa deste mundo.
A existência simultânea de oxigénio e metano na mesma atmosfera é peculiar. As leis da química são muito claras: na presença de um excesso de O2, o CH4 deveria ser inteiramente convertido em H2O e CO2. Este processo é tão eficiente, que não deveria existir uma única molécula de metano em toda a atmosfera terrestre.
Contudo, descobre que uma em cada milhão de moléculas é metano, o que constitui uma imensa discrepância. O que poderá significar?
A única explicação possível é o metano estar a ser injetado na atmosfera terrestre tão rapidamente que a sua reação química com o O2 não consegue acompanhar o ritmo.
Qual a origem de todo este metano? Talvez se escape do interior da Terra – mas, quantitativamente, esta conjetura parece não resultar , e Marte e Vénus não possuem uma concentração de metano semelhante a esta.
As únicas alternativas são biológicas, uma conclusão que não faz suposições sobre a química da vida, nem a sua aparência, mas deriva meramente da instabilidade do metano numa atmosfera rica em oxigénio.
De facto, o metano tem como origem as bactérias dos pântanos, do cultivo de arroz, da queima de vegetação, do gás natural dos poços de petróleo e da flatulência bovina. Numa atmosfera rica em oxigénio, a existência de metano é um sinal de vida.
É um tanto desconcertante que as atividades intestinais íntimas das vacas sejam detetáveis a partir do espaço interplanetário, especialmente quando tanto do que nos é caro não o é. Todavia, um cientista extraterrestre passando pela Terra não poderia, até esta altura, deduzir a existência de pântanos, arroz, fogo, petróleo ou vacas. Apenas vida.
Todos os sinais de vida que discutimos até agora são devidos a formas de vida comparativamente simples (o metano no rúmen das vacas é gerado por bactérias que vivem nele).
Se a sua nave espacial tivesse passado próximo da Terra há uma centena de milhões de anos, na era dos dinossauros, quando não existiam humanos nem tecnologia, ainda assim se observaria o oxigénio e o ozono, o pigmento clorofila e demasiado metano.
Atualmente, contudo, os nossos instrumentos estão a captar não precisamente sinais de vida, mas de alta tecnologia – algo que não poderia ter sido detetado há cem anos.
Está a detetar uma onda de rádio particular proveniente da Terra. As ondas de rádio não significam necessariamente vida e inteligência. Podem ser geradas por muitos fenómenos natuais.
Já se encontraram emissões de rádio provenientes de outros mundos aparentemente desabitados – gerada por eletrões presos pelos mesmos campos magnéticos dos planetas, por movimentos caóticos nas frentes de choque que separam esses campos magnéticos do campo magnético interplanetário e por relâmpagos.
(Os «assobios» radiofónicos percorrem normalmente notas que vão das altas até às baixas, num ciclo repetido).
Algumas dessas emissões de rádio são contínuas; algumas surgem em rajadas repetitivas; algumas duram poucos minutos e depois desaparecem.
Mas esta é diferente. Uma parte da transmissão rádio da Terra regista-se apenas nas frequências onde as ondas de rádio começam a escapar-se da ionosfera do planeta, a região eletricamente carregada acima da estratosfera que refelte e absorve as ondas de rádio.
Cada transmissão contém uma frequência central constante sobre a qual é modulado um sinal (uma sequência complexa de comutações). Nenhum eletrão num campo magnético, nenhuma frente de choque, nenhuma carga atmosférica podem geral algo semelhante.
A única explicação possível parece ser a vida inteligente.
A conclusão de que a transmissão rádio se deve a tecnologia terrestre justifica-se independentemente do significado das comunicações. Não é necessário descodificar a mensagem para ter a certeza de que é uma mensagem. (Este sinal é na realidade, suponhamos, a comunicação entre a Marinha dos Estados Unidos e a sua frota de submarinos equipados com armas nucleares).
Portanto, se fosse um explorador extraterrestre, saberia que pelo menos uma espécie da Terra tinha dominado a tecnologia rádio. Qual delas? As criaturas que produzem metano? As que geram oxigénio? Aquelas cujo pigmento cobre a paisagem de verde? Ou outra, mais subtil, indetetável por uma nave espacial de passagem? Para descobrir essa espécie tecnológica, talvez seja desejável examinar a Terra com uma resolução superior – procurando, se não os próprios seres, pelo menos os seus artefactos.
Começa com um telescópio modesto, de tal forma que o maior detalhe que é possível definir é da ordem de 1 ou 2 quilómetros. Não é possível distinguir nenhuma arquitetura monumental, nenhuma formação estranha, nenhuma modificação artificial da paisagem, nenhum sinal de vida.
Observa uma densa atmosfera em movimento. A água abundante deve evaporar-se e depois precipitar-se sob a forma de chuva. Antigas crateras de impacto, evidentes na lua próxima da Terra, são quase inexistentes. Deve, pois, existir um conjunto de processos através dos quais se cria terra nova, que sofre depois uma erosão em muito menos tempo que a idade deste mundo. Isso implica água corrente.
Enquanto examina com uma resolução cada vez maior, descobre serras, vales e muitas outras indicações de que o planeta é geologicamente ativo. Existem também alguns locais estranhos rodeados de vegetação, mas que são eles próprios desprovidos de plantas. Assemelham-se a manchas descoloridas na paisagem.
Quando examina a Terra com uma resolução de cerca de 100 metros, tudo se altera. O planeta revela-se coberto de linhas retas, quadrados, retângulos e círculos – por vezes, cingindo-se ao redor das margens dos rios ou aninhando-se nas encostas mais baixas das montanhas, outras vezes estendendo-se pelas planícies, mas raramente nos desertos ou nas altas montanhas, e absolutamente nunca nos oceanos.
A sua regularidade, complexidade e distribuição seria difícil de explicar não recorrendo à vida e à inteligência, apesar da compreensão da função e do propósito poder ser enganadora. Talvez só conseguisse concluir que as formas de vida dominantes possuem simultaneamente uma paixão pela territorialidade e pela geometria euclidiana. Com esta resolução não as poderia ver e muito menos conhecer.
Muitas das manchas desprovidas de vegetação revelam possuir uma geometria axadrezada subjacente. São as cidades do planeta.
Sobre grande parte da paisagem, e não apenas nas cidades, nota uma profusão de linhas retas, quadrados, retângulos e círculos. As manchas escuras, correspondentes às cidades, revelam uma geometrização acentuada, possuindo apenas alguns pedaços de vegetação intactos e também eles com delimitações marcadamente regulares. Nota ocasionalmente alguns triângulos e, numa cidade, um pentágono.
Quando tira fotografias com uma resolução de 1 metro ou menos, descobre-se que as linhas retas entre-cruzadas dentro das cidades e as longas linhas retas que as ligam a outras cidades contém imensos seres aerodinâmicos e multicolores com alguns metros de comprimento, delicadamente uns atrás dos outros, numa procissão ordenadamente lenta e longa.
Eles são muito pacientes. Uma fiada de seres imobiliza-se para deixar a outra continuar em ângulo reto. Este favor é retribuído regularmente. À noite, ligam duas luzes intensas à frente para verem o caminho. Alguns, um número reduzido de privilegiados, quando o dia de trabalho termina, recolhem a pequenas casas para descansar durante a noite. A maioria não tem casa e dorme nas ruas.
Até que enfim! Detetou a fonte de toda a tecnologia, as formas de vida dominantes do planeta. As ruas das cidades e as estradas no campo são evidentemente construídas para seu benefício. Poderia julgar que estava realmente a começar a perceber a vida na Terra. E talvez tivesse razão.
Se aumentasse um pouco mais a resolução, descobriria pequenos parasitas que entram e saem ocasionalmente dos organismos dominantes. Eles desempenham um qualquer papel mais importante, todavia, porque, frequentemente, um organismo dominante estacionado recomeça a funcionar imediatamente depois de ter sido reinfetado por um parasita, e para imediatamente antes de o parasita ser expelido. Isto é enigmático. Mas ninguém disse que a vida na Terra seria fácil de compreender.
Todas as fotografias que tirou até agora apanharam a luz do Sol refletida; isto é, foram tiradas na parte do planeta em que é dia. Percebe uma coisa muitíssimo interessante quando fotografa a Terra durante a noite: o planeta é iluminado.
A região mais brilhante, perto do círculo ártico, é iluminada pela aurora boreal – originada não pela vida, mas por eletrões e protões provenientes do Sol, desviados pelo campo magnético terrestre.
Tudo o resto que vê se deve à vida. As luzes delimitam reconhecidamente os mesmos continentes que entreviu durante o dia; e muitas correspondem a cidades que já mapeou. As cidades concentram-se próximo das costas. Tendem a ser mais esparsas no interior dos continentes. Talvez os organismos dominantes precisem desesperadamente de água salgada (ou talvez, em tempos, os navios oceânicos tenham sido essenciais para o comércio e a emigração).
Algumas das luzes, porém, não se devem às cidades. No Norte de África, no Médio Oriente e na Sibéria, por exemplo, existem luzes muito brilhantes numa paisagem comparativamente estéril – devidas, na prática, às queimas em poços de petróleo e gás natural.
No mar do Japão, no primeiro dia em que observa, repara numa estranha área iluminada com forma triangular. Não é uma cidade. O que poderá ser?
De facto, é a frota japonesa de pesca da lula, que utiliza iluminações brilhantes para atrair cardumes de lulas à sua morte. Noutros dias, este padrão de luzes vagueia por todo o Oceano Pacífico em busca de presas. Com efeito, o que acaba de descobrir é o sushi.
Parece-me grave o facto de poderem detetar tão rapidamente do espaço algumas das peculiaridades da vida na Terra – os hábitos gastrointestinais dos ruminantes, a cozinha japonesa, os meios de comunicação com os submarinos errantes que ameaçam de morte 200 cidades – enquanto grande parte da nossa arquitetura monumental, dos nossos empreendimentos de engenharia, dos nossos esforços para cuidarmos uns dos outros, são quase completamente invisíveis. É uma espécie de parábola.
Até ao momento, a expedição à Terra tem de ser considerada um enorme sucesso. Caracterizou o meio ambiente; detetou vida; descobriu manifestações de seres inteligentes; talvez até tenha identificado a espécie dominante, apaixonada pela geometria e retilinearidade.
Este planeta merece certamente um estudo mais prolongado e detalhado. Por essa razão, colocou a sua nave em órbita à volta da Terra.
Olhando para baixo para o planeta, descobre novos enigmas. Em toda a Terra, as chaminés lançam dióxido de carbono e químicos tóxicos para o ar. Os seres dominantes que se deslocam nas estradas também o fazem. Mas o dióxido de carbono é um gás que contribui para o efeito de estufa. Pode verificar que a sua quantidade na atmosfera aumenta progressivamente ano após ano.
O mesmo se verifica no caso do metano e de outros gases que aumentam o efeito de estufa. Se esta situação se mantiver, a temperatura do planeta irá subir. Espectroscopicamente, descobre outra classe de moléculas que estão a ser injetadas no ar, os clorofluor-carbonetos, que não só aumentam o efeito de estufa, como são devastadoramente eficientes na destruição da camada de ozono protetora.
Olha mais cuidadosamente para o centro do continente sul-americano, que – como já se sabe agora – é uma vasta floresta tropical. Todas as noites observa milhares de incêndios. Durante o dia, a região está coberta de fumo. Com o passar dos anos, por todo o planeta, existem cada vez menos florestas e mais zonas semidesérticas.
Olha para baixo, para a grande ilha de Madagáscar. Os rios são de cor castanha, originando uma vasta mancha no oceano envolvente. É a camada superior do solo a ser arrastada para o mar a uma taxa tão elevada, que desaparecerá daqui a algumas décadas. Nota que o mesmo acontece na foz dos rios ao longo de todo o planeta.
Mas, se a camada superior do solo desaparece, a agricultura torna-se impossível. Daqui a um século, como se alimentarão? O que respirarão? Como reagirão a um meio ambiente em mudança e mais perigoso?
Da sua posição orbital, pode ver que, indubitavelmente, alguma coisa correu mal. Os organismos dominantes, quaisquer que sejam – e que se deram ao imenso trabalho de modificar a sua superfície – estão a destruir simultaneamente a sua camada de ozono e as suas florestas, a deixar erodir o seu solo fértil e a realizar experiências enormes e descontroladas com o clima do seu planeta. Não terão dado pelo que se passa? Ignorarão o que os aguarda? Serão incapazes de trabalhar em conjunto em nome do meio ambiente que os sustenta a todos?
Talvez, pense o leitor, esteja na altura de reavaliar a suposição de que existe vida inteligente na Terra
O capítulo que se segue – «Haverá vida inteligente na Terra?» – foi transcrito do livro «O Ponto Azul-Claro», inspirado na iconográfica fotografia da Voyager de um distante planeta Terra e planeado como uma sequela do célebre «Cosmos: uma viagem pessoal», um livro baseado na série de televisão.
Este livro foi publicado em 1994, dois anos antes de Sagan morrer, mas mesmo a passagem dos anos não lhe tira atualidade e pertinência: talvez porque ele nunca se preocupou em escrever apenas sobre Ciência, mas em partilhar uma visão de futuro que tem tanto de científica como espiritual.
O capítulo aqui transcrito aborda uma situação hipotética: se uma nave de extraterrestres visitasse o nosso sistema solar e investigasse a Terra, que encontrariam eles? Como descobririam a existência de vida? Como seriam capazes de detetar organismos inteligentes?
Ao inverter os papéis e fazer da Terra o objeto das observações, Sagan propõe-nos reconsiderar, com acutilância, imaginação e sentido de humor, o nosso papel no Cosmos e o que andamos a fazer neste frágil ponto-azul claro.
Segue-se então o texto de Carl Sagan, traduzido por Augusto Manuel Marques e Jorge Landeck. As fotografias aéreas são da autoria de Yann Arthus-Bertrand.
Haverá vida inteligente na Terra?
Suponha que é um explorador extraterrestre que acaba de chegar ao sistema solar após uma longa viagem através do espaço interestelar.
Examina os planetas dessa estrela banal de longe – uma bela mão-cheia, alguns cinzentos, alguns azuis, alguns vermelhos e outros amarelos. Está interessado em saber que tipo de mundos são estes, se os seus meios ambientes são estáveis ou variáveis e, especialmente, se existe vida e inteligência. Não possui nenhum conhecimento prévio sobre a Terra. Acaba de descobrir a existência dela.
Imaginemos que existe uma ética galáctica: olhar, sim; mexer, não. Podem sobrevoar esses mundos, orbitá-los, mas estão expressamente proibidos de aterrar. Com estas limitações, conseguir-se-ia perceber qual o tipo de meio ambiente da Terra e se alguém lá viveria?
À medida que nos aproximamos, a primeira impressão da Terra no seu conjunto revela nuvens brancas, calotas polares brancas, continentes castanhos e uma substância azulada que cobre dois terços da superfície.
Quando medir a temperatura deste mundo a partir da radiação infravermelha que ele emite, descobre que a maior parte das latitudes está acima do ponto de congelação da água, enquanto as calotas polares são constituídas por água solidificada e nuvens de água sólida e líquida é uma hipótese razoável.
Também poderia ser tentado a pensar que a substância azulada fossem enormes quantidades – com quilómetros de profundidade – de água líquida.
A sugestão é bizarra, todavia, pelo menos no que diz respeito a este sistema solar, porque não existem oceanos superficiais de água líquida em nenhum outro planeta.
Quando inspeciona o espectro visível e infravermelho próximo em busca das assinaturas reveladoras da composição química, descobre, com toda a certeza, água nas calotas polares e suficiente vapor de água no ar para justificar as nuvens; essa é precisamente a quantidade adequada que deve existir, devido à evaporação, se os oceanos forem de facto compostos por água líquida. A hipótese bizarra confirma-se.
Os espectrómetros revelam, além disso, que o ar deste mundo contém um quinto de oxigénio, 02. Nenhum outro planeta do sistema solar possui uma percentagem de oxigénio tão elevada. Qual a sua origem?
A luz ultravioleta intensa do Sol divide a água, H2O, em oxigénio e hidrogénio e o hidrogénio, o gás mais leve, escapa-se rapidamente para o espaço. Este é uma fonte de O2, certamente, mas não justifica uma percentagem tão elevada de oxigénio.
Outra possibilidade é a luz visível ordinária, que o Sol emite em grande abundância, ser utilizada na Terra para dividir a água – contudo, este processo só é possível se houver vida.
Teriam de existir plantas – forma de vida coloridas com um pigmento que absorve fortemente a luz visível, que sabem como separar a molécula de água, guardando a energia de dois fotões de luz, que retém o H e libertam o O, e que utilizam o hidrogénio assim obtido para sintetizar moléculas orgânicas. As plantas teriam de cobrir grande parte do planeta.
Tudo isto é pedir muito. Se for um bom cientista cético, tanto O2 não seria uma prova da existência de vida. Mas seria certamente uma boa razão para suspeitar da sua existência.
Com tanto oxigénio, não ficaria surpreendido por descobrir ozono (O3) na atmosfera, porque a luz ultravioleta produz ozono a partir do oxigénio molecular (O2). O ozono absorve, por sua vez, a radiação ultravioleta perigosa. Portanto, se o oxigénio se deve à vida, há uma curiosas sensação de que a vida se protege a si mesma. Mas esta vida poderia ser constituída por meras plantas fotossintéticas. Não está implícito um alto nível de inteligência.
Quando examinamos os continentes mais detalhadamente, descobrimos que existem, falando em termos grosseiros, dois tipos de regiões.
Uma revela o espectro de rochas e minerais comuns a vários outros mundos. A outra revela algo invulgar: um material que cobre vastas áreas e absorve fortemente a luz vermelha. (O Sol, evidentemente, emite luz de todas as cores, com um pico no amarelo.)
Este pigmento pode muito bem ser o agente necessário se a luz visível ordinária estiver a ser utilizada para dividir a água, sendo responsável pelo oxigénio do ar. É outra pista, desta feita um pouco mais sólida, da existência de vida – não apenas um bicharoco aqui e outro ali, mas uma superfície planetária repleta de vida. O pavimento é, de facto, clorofila: absorve luz azul, bem como vermelha, e é responsável pelo facto de as plantas serem verdes. O que está a observar é um planeta com uma densa cobertura florestal.
A Terra revela assim possuir três características únicas pelo menos neste sistema solar – oceanos, oxigénio, vida. É difícil não supor que estão relacionadas, sendo os oceanos os locais de origem, e o oxigénio o produto, de uma vida abundante.
Quando olha atentamente para o espectro infravermelho da Terra, descobre os constituintes menos abundantes do ar. Para além do vapor de água, há dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e outros gases que absorvem o calor que a Terra tenta irradiar para o espaço durante a noite. Esses gases aquecem o planeta. Sem eles, a Terra atingiria em todos os pontos temperaturas inferiores ao ponto de congelação da água. Acaba de descobrir o efeito de estufa deste mundo.
A existência simultânea de oxigénio e metano na mesma atmosfera é peculiar. As leis da química são muito claras: na presença de um excesso de O2, o CH4 deveria ser inteiramente convertido em H2O e CO2. Este processo é tão eficiente, que não deveria existir uma única molécula de metano em toda a atmosfera terrestre.
Contudo, descobre que uma em cada milhão de moléculas é metano, o que constitui uma imensa discrepância. O que poderá significar?
A única explicação possível é o metano estar a ser injetado na atmosfera terrestre tão rapidamente que a sua reação química com o O2 não consegue acompanhar o ritmo.
Qual a origem de todo este metano? Talvez se escape do interior da Terra – mas, quantitativamente, esta conjetura parece não resultar , e Marte e Vénus não possuem uma concentração de metano semelhante a esta.
As únicas alternativas são biológicas, uma conclusão que não faz suposições sobre a química da vida, nem a sua aparência, mas deriva meramente da instabilidade do metano numa atmosfera rica em oxigénio.
De facto, o metano tem como origem as bactérias dos pântanos, do cultivo de arroz, da queima de vegetação, do gás natural dos poços de petróleo e da flatulência bovina. Numa atmosfera rica em oxigénio, a existência de metano é um sinal de vida.
É um tanto desconcertante que as atividades intestinais íntimas das vacas sejam detetáveis a partir do espaço interplanetário, especialmente quando tanto do que nos é caro não o é. Todavia, um cientista extraterrestre passando pela Terra não poderia, até esta altura, deduzir a existência de pântanos, arroz, fogo, petróleo ou vacas. Apenas vida.
Todos os sinais de vida que discutimos até agora são devidos a formas de vida comparativamente simples (o metano no rúmen das vacas é gerado por bactérias que vivem nele).
Se a sua nave espacial tivesse passado próximo da Terra há uma centena de milhões de anos, na era dos dinossauros, quando não existiam humanos nem tecnologia, ainda assim se observaria o oxigénio e o ozono, o pigmento clorofila e demasiado metano.
Atualmente, contudo, os nossos instrumentos estão a captar não precisamente sinais de vida, mas de alta tecnologia – algo que não poderia ter sido detetado há cem anos.
Está a detetar uma onda de rádio particular proveniente da Terra. As ondas de rádio não significam necessariamente vida e inteligência. Podem ser geradas por muitos fenómenos natuais.
Já se encontraram emissões de rádio provenientes de outros mundos aparentemente desabitados – gerada por eletrões presos pelos mesmos campos magnéticos dos planetas, por movimentos caóticos nas frentes de choque que separam esses campos magnéticos do campo magnético interplanetário e por relâmpagos.
(Os «assobios» radiofónicos percorrem normalmente notas que vão das altas até às baixas, num ciclo repetido).
Algumas dessas emissões de rádio são contínuas; algumas surgem em rajadas repetitivas; algumas duram poucos minutos e depois desaparecem.
Mas esta é diferente. Uma parte da transmissão rádio da Terra regista-se apenas nas frequências onde as ondas de rádio começam a escapar-se da ionosfera do planeta, a região eletricamente carregada acima da estratosfera que refelte e absorve as ondas de rádio.
Cada transmissão contém uma frequência central constante sobre a qual é modulado um sinal (uma sequência complexa de comutações). Nenhum eletrão num campo magnético, nenhuma frente de choque, nenhuma carga atmosférica podem geral algo semelhante.
A única explicação possível parece ser a vida inteligente.
A conclusão de que a transmissão rádio se deve a tecnologia terrestre justifica-se independentemente do significado das comunicações. Não é necessário descodificar a mensagem para ter a certeza de que é uma mensagem. (Este sinal é na realidade, suponhamos, a comunicação entre a Marinha dos Estados Unidos e a sua frota de submarinos equipados com armas nucleares).
Portanto, se fosse um explorador extraterrestre, saberia que pelo menos uma espécie da Terra tinha dominado a tecnologia rádio. Qual delas? As criaturas que produzem metano? As que geram oxigénio? Aquelas cujo pigmento cobre a paisagem de verde? Ou outra, mais subtil, indetetável por uma nave espacial de passagem? Para descobrir essa espécie tecnológica, talvez seja desejável examinar a Terra com uma resolução superior – procurando, se não os próprios seres, pelo menos os seus artefactos.
Começa com um telescópio modesto, de tal forma que o maior detalhe que é possível definir é da ordem de 1 ou 2 quilómetros. Não é possível distinguir nenhuma arquitetura monumental, nenhuma formação estranha, nenhuma modificação artificial da paisagem, nenhum sinal de vida.
Observa uma densa atmosfera em movimento. A água abundante deve evaporar-se e depois precipitar-se sob a forma de chuva. Antigas crateras de impacto, evidentes na lua próxima da Terra, são quase inexistentes. Deve, pois, existir um conjunto de processos através dos quais se cria terra nova, que sofre depois uma erosão em muito menos tempo que a idade deste mundo. Isso implica água corrente.
Enquanto examina com uma resolução cada vez maior, descobre serras, vales e muitas outras indicações de que o planeta é geologicamente ativo. Existem também alguns locais estranhos rodeados de vegetação, mas que são eles próprios desprovidos de plantas. Assemelham-se a manchas descoloridas na paisagem.
Quando examina a Terra com uma resolução de cerca de 100 metros, tudo se altera. O planeta revela-se coberto de linhas retas, quadrados, retângulos e círculos – por vezes, cingindo-se ao redor das margens dos rios ou aninhando-se nas encostas mais baixas das montanhas, outras vezes estendendo-se pelas planícies, mas raramente nos desertos ou nas altas montanhas, e absolutamente nunca nos oceanos.
A sua regularidade, complexidade e distribuição seria difícil de explicar não recorrendo à vida e à inteligência, apesar da compreensão da função e do propósito poder ser enganadora. Talvez só conseguisse concluir que as formas de vida dominantes possuem simultaneamente uma paixão pela territorialidade e pela geometria euclidiana. Com esta resolução não as poderia ver e muito menos conhecer.
Muitas das manchas desprovidas de vegetação revelam possuir uma geometria axadrezada subjacente. São as cidades do planeta.
Sobre grande parte da paisagem, e não apenas nas cidades, nota uma profusão de linhas retas, quadrados, retângulos e círculos. As manchas escuras, correspondentes às cidades, revelam uma geometrização acentuada, possuindo apenas alguns pedaços de vegetação intactos e também eles com delimitações marcadamente regulares. Nota ocasionalmente alguns triângulos e, numa cidade, um pentágono.
Quando tira fotografias com uma resolução de 1 metro ou menos, descobre-se que as linhas retas entre-cruzadas dentro das cidades e as longas linhas retas que as ligam a outras cidades contém imensos seres aerodinâmicos e multicolores com alguns metros de comprimento, delicadamente uns atrás dos outros, numa procissão ordenadamente lenta e longa.
Eles são muito pacientes. Uma fiada de seres imobiliza-se para deixar a outra continuar em ângulo reto. Este favor é retribuído regularmente. À noite, ligam duas luzes intensas à frente para verem o caminho. Alguns, um número reduzido de privilegiados, quando o dia de trabalho termina, recolhem a pequenas casas para descansar durante a noite. A maioria não tem casa e dorme nas ruas.
Até que enfim! Detetou a fonte de toda a tecnologia, as formas de vida dominantes do planeta. As ruas das cidades e as estradas no campo são evidentemente construídas para seu benefício. Poderia julgar que estava realmente a começar a perceber a vida na Terra. E talvez tivesse razão.
Se aumentasse um pouco mais a resolução, descobriria pequenos parasitas que entram e saem ocasionalmente dos organismos dominantes. Eles desempenham um qualquer papel mais importante, todavia, porque, frequentemente, um organismo dominante estacionado recomeça a funcionar imediatamente depois de ter sido reinfetado por um parasita, e para imediatamente antes de o parasita ser expelido. Isto é enigmático. Mas ninguém disse que a vida na Terra seria fácil de compreender.
Todas as fotografias que tirou até agora apanharam a luz do Sol refletida; isto é, foram tiradas na parte do planeta em que é dia. Percebe uma coisa muitíssimo interessante quando fotografa a Terra durante a noite: o planeta é iluminado.
A região mais brilhante, perto do círculo ártico, é iluminada pela aurora boreal – originada não pela vida, mas por eletrões e protões provenientes do Sol, desviados pelo campo magnético terrestre.
Tudo o resto que vê se deve à vida. As luzes delimitam reconhecidamente os mesmos continentes que entreviu durante o dia; e muitas correspondem a cidades que já mapeou. As cidades concentram-se próximo das costas. Tendem a ser mais esparsas no interior dos continentes. Talvez os organismos dominantes precisem desesperadamente de água salgada (ou talvez, em tempos, os navios oceânicos tenham sido essenciais para o comércio e a emigração).
Algumas das luzes, porém, não se devem às cidades. No Norte de África, no Médio Oriente e na Sibéria, por exemplo, existem luzes muito brilhantes numa paisagem comparativamente estéril – devidas, na prática, às queimas em poços de petróleo e gás natural.
No mar do Japão, no primeiro dia em que observa, repara numa estranha área iluminada com forma triangular. Não é uma cidade. O que poderá ser?
De facto, é a frota japonesa de pesca da lula, que utiliza iluminações brilhantes para atrair cardumes de lulas à sua morte. Noutros dias, este padrão de luzes vagueia por todo o Oceano Pacífico em busca de presas. Com efeito, o que acaba de descobrir é o sushi.
Parece-me grave o facto de poderem detetar tão rapidamente do espaço algumas das peculiaridades da vida na Terra – os hábitos gastrointestinais dos ruminantes, a cozinha japonesa, os meios de comunicação com os submarinos errantes que ameaçam de morte 200 cidades – enquanto grande parte da nossa arquitetura monumental, dos nossos empreendimentos de engenharia, dos nossos esforços para cuidarmos uns dos outros, são quase completamente invisíveis. É uma espécie de parábola.
Até ao momento, a expedição à Terra tem de ser considerada um enorme sucesso. Caracterizou o meio ambiente; detetou vida; descobriu manifestações de seres inteligentes; talvez até tenha identificado a espécie dominante, apaixonada pela geometria e retilinearidade.
Este planeta merece certamente um estudo mais prolongado e detalhado. Por essa razão, colocou a sua nave em órbita à volta da Terra.
Olhando para baixo para o planeta, descobre novos enigmas. Em toda a Terra, as chaminés lançam dióxido de carbono e químicos tóxicos para o ar. Os seres dominantes que se deslocam nas estradas também o fazem. Mas o dióxido de carbono é um gás que contribui para o efeito de estufa. Pode verificar que a sua quantidade na atmosfera aumenta progressivamente ano após ano.
O mesmo se verifica no caso do metano e de outros gases que aumentam o efeito de estufa. Se esta situação se mantiver, a temperatura do planeta irá subir. Espectroscopicamente, descobre outra classe de moléculas que estão a ser injetadas no ar, os clorofluor-carbonetos, que não só aumentam o efeito de estufa, como são devastadoramente eficientes na destruição da camada de ozono protetora.
Olha mais cuidadosamente para o centro do continente sul-americano, que – como já se sabe agora – é uma vasta floresta tropical. Todas as noites observa milhares de incêndios. Durante o dia, a região está coberta de fumo. Com o passar dos anos, por todo o planeta, existem cada vez menos florestas e mais zonas semidesérticas.
Olha para baixo, para a grande ilha de Madagáscar. Os rios são de cor castanha, originando uma vasta mancha no oceano envolvente. É a camada superior do solo a ser arrastada para o mar a uma taxa tão elevada, que desaparecerá daqui a algumas décadas. Nota que o mesmo acontece na foz dos rios ao longo de todo o planeta.
Mas, se a camada superior do solo desaparece, a agricultura torna-se impossível. Daqui a um século, como se alimentarão? O que respirarão? Como reagirão a um meio ambiente em mudança e mais perigoso?
Da sua posição orbital, pode ver que, indubitavelmente, alguma coisa correu mal. Os organismos dominantes, quaisquer que sejam – e que se deram ao imenso trabalho de modificar a sua superfície – estão a destruir simultaneamente a sua camada de ozono e as suas florestas, a deixar erodir o seu solo fértil e a realizar experiências enormes e descontroladas com o clima do seu planeta. Não terão dado pelo que se passa? Ignorarão o que os aguarda? Serão incapazes de trabalhar em conjunto em nome do meio ambiente que os sustenta a todos?
Talvez, pense o leitor, esteja na altura de reavaliar a suposição de que existe vida inteligente na Terra
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