A Embrapa Agroenergia e o Ministério do Meio Ambiente promoveram na 
última quarta-feira (25) o Seminário sobre Energia Renováveis para 
discutir o tema no âmbito dos diálogos setoriais Brasil – União 
Europeia. O potencial de uso do sol, do mar, dos ventos e da biomassa 
para gerar energia foi debatido por representantes de órgãos do governo,
 instituições de pesquisa e empresas. Cerca de 90 pessoas participam do 
evento, que aconteceu no auditório da Embrapa Estudos e Capacitação, em 
Brasília.
Energia solar
O professor Roberto Schaeffer, da Universidade Federal do Rio de Janeiro
 (COOPE/UFRJ), mostrou, em sua apresentação, que o uso da energia solar 
fotovoltaica poderia produzir três vezes o volume de energia que o 
Brasil usa hoje. Esse dado foi levantado pela equipe do professor 
Schaeffer, considerando fatores como incidência solar ao longo do ano, 
competição pelo uso da terra e proximidade de linhas de transmissão. O 
problema está no custo. O quilowatt/hora gerado por uma planta 
fotovoltaica chega a ser seis vezes mais caro em relação ao das 
hidrelétricas.
“De fato a barreira à energia solar não é falta de sol, mas o custo da 
tecnologia”, enfatiza Schaeffer. Ele ressalta, no entanto, que os 
investimentos em pesquisa e desenvolvimento poderão baixar os custos e 
viabilizar a sua utilização em escala. Ele defende a definição de 
incentivos ao setor como reduzir impostos para importação de 
equipamentos e facilitar a instalação de plantas. Ele acredita que, 
tornar obrigatória uma participação mínima da fonte solar na matriz 
energética brasileira poderia estimular o desenvolvimento do setor sem 
onerar muito o consumidor.
Energia dos oceanos
Também da COPPE/UFRJ, Paulo Roberto da Costa apresentou a geração de 
energia elétrica a partir das ondas do mar, tecnologia que está em fase 
de amadurecimento, mas próxima de atingir a fase comercial. Ainda este 
ano, deve ser inaugurada uma planta de aproveitamento dessa fonte 
energética, no litoral do Ceará, num projeto realizado em parceria pela 
COPPE/UFRJ, a Tractebel Energia e a Agência Nacional de Energia Elétrica
 (Aneel).
Costa explica que a geração de energia elétrica a partir das ondas do 
mar “não lança partículas poluentes, não gera ruído, nem agride a fauna 
marinha, desde que as unidades de conversão sejam instaladas fora das 
rotas de navegação e de migração de baleias”. Outra vantagem é 
possibilidade de usar a mesma instalação para gerar energia elétrica e 
dessalinizar a água do mar, tornando-a disponível para consumo 
doméstico, industrial e agrícola. Segundo o pesquisador, o custo do 
aproveitamento da energia de ondas do mar está muito próximo ao da 
energia eólica. “As perspectivas de comercialização são muito boas e a 
COOPE/UFRJ conta, em sua incubadora, com uma empresa para tratar da 
comercialização dessa tecnologia”, afirma Costa.
Energia eólica
“A energia eólica no Brasil já está presente”, contou o pesquisador do 
Cepel/Eletrobras Ricardo Dutra. O aproveitamento dos ventos como fonte 
de energia desenvolveu-se no Brasil com a edição do Atlas do potencial 
eólico Brasileiro em 2001 e com os incentivos do governo federal por 
meio do ProInfra.  Dutra disse que a energia eólica tende a crescer e 
que o maior potencial do Brasil está na costa do Nordeste e na Região 
Sul. Atualmente, ela já é mais barata do que algumas fontes tradicionais
 de energia. O terreno destinado à instalação de aerogeradores para 
captação da energia dos ventos pode ser compartilhado com plantações 
rasteiras, com a soja e a batata, além da pecuária.
Energia de biomassa
Outra fonte de energia renovável que já é largamente utilizada e ainda 
tem grande potencial de crescimento no Brasil é a biomassa. O etanol e 
biodiesel já respondem por 23% da matriz energética do País, segundo 
dados apresentados no evento por José Nilton Vieira, da Casa Civil. No 
entanto, há alguns problemas que precisam ser solucionados para que essa
 porcentagem cresça ou mesmo se mantenha. “Nos últimos três anos, o 
etanol deixou de ser atraente para os consumidores mesmo no período de 
safra. Se não houver redução dos preços internacionais do açúcar, o 
valor de produção do etanol continuará elevado”, disse. Quanto ao 
biodiesel, é preciso avançar nas pesquisas e encontrar novas 
matérias-primas capazes de garantir suprimentos para o aumento da 
produção e da inserção da agricultura familiar no programa.
A embaixadora brasileira Mariângela Rebuá, diretora do Departamento de 
Energia do Ministério das Relações Exteriores e copresidenta da 
organização internacional Global Bioenergy Partnership (GBEP), afirmou 
que o ponto chave hoje é eficiência energética. Ela explicou que, com a 
melhoria desse fator, seria possível reduzir em aproximadamente 30% o 
consumo global de energia. A embaixadora defendeu o uso da biomassa para
 produção de energia. “Todos os estudos apontam que mesmo que se 
aumentasse em cinco ou dez vezes as áreas agrícolas destinadas a 
biocombustíveis, não se chegaria a um nível problemático”, explica. “Os 
biocombustíveis são a melhor alternativa para substituir a gasolina no 
médio prazo”, acrescentou. Mariângela lembrou que o etanol brasileiro 
foi considerado pela Environmental Protection Agency (EPA) um 
biocombustível avançado, capaz de reduzir em 61% a emissão de gases de 
efeito estufa.
O pesquisador da Embrapa Agroenergia José Dilcio Rocha apresentou um 
levantamento dos resíduos gerados principalmente na produção 
agropecuária que podem ser utilizados para geração de energia. Exemplos 
bem sucedidos do aproveitamento de resíduos são o bagaço da 
cana-de-açúcar, que já dá origem a 7% da energia elétrica brasileira, e o
 sebo bovino empregado na fabricação de biodiesel.  O caroço do açaí, a 
fibra do coco e a palhada da cana e a do capim utilizado para produção 
de sementes são outros resíduos que poderiam ser utilizados para fins 
energéticos. “Temos um volume de palha de cana semelhante ao do bagaço 
que praticamente não tem aproveitamento”, comentou. Rocha destacou a 
importância de utilizar ao máximo os produtos agropecuários, dentro do 
conceito de biorrefinarias. “De um barril de petróleo não se obtém 
apenas  gasolina, mas uma série de produtos, e podemos fazer o mesmo com
 a biomassa, num contexto de desenvolvimento sustentável”, explicou.
Durante o seminário, a situação e as potencialidades das energias 
renováveis no Brasil também foram tratadas por José Augusto Valente e 
Tito Cruz, da Aneel, Daniel Neri, do Instituto UNA/MG, Carlos 
Niedesberg, da Fepam/RS, e Edson Furuiti do DEG (Agência alemã para o 
fomento do setor privado), Energias renováveis na Europa.
Um panorama geral das energias renováveis na Europa foi apresentado por 
Antônio Joyce, do Laboratório Nacional de Energia e Geologia de 
Portugal. Ele contou que, juntas, as energias hidráulica e eólica 
respondem pela maior fatia na matriz energética portuguesa, mas o gás 
natural e o carvão ainda são fontes importantes. A energia solar vem 
ganhando espaço naquele país, com plantas de diferentes capacidades 
instaladas. A participação dessa fonte no país ainda é relativamente 
baixa, especialmente em função do custo. Joyce destaca, no entanto, que o
 preço já caiu pela metade se comparado ao de cinco anos  atrás.
O pesquisador português ressaltou que, ao lado das grandes instalações 
para aproveitamento de energia eólica e solar, deve ser ampliada a 
instalação de equipamentos unifamiliares, como coletores solares 
térmicos e fotovoltáicos e pequenos aerogeradores. Ao mesmo tempo é 
preciso formar a consciência da população quanto à economia e eficiência
 energéticas. “Uma iniciativa muito importante está acontecendo em 
Portugal, pois todos os novos edifícios devem apresentar certificados de
 eficiência no uso de energia” explicou.
Joyce acredita que potencial brasileiro para ampliação do uso de fontes 
renováveis de energia é enorme. “Em termos de pesquisa e 
desenvolvimento, o Brasil está no mesmo nível da União Europeia”, 
observa. Na opinião dele, o trabalho conjunto entre o Brasil e a Europa 
deve ser ampliado. 
Inovação para sustentabilidade
Na abertura do evento, o chefe-geral da Embrapa Agroenergia, Manoel 
Teixeira Souza Júnior, disse que a instituição aceitou prontamente o 
convite do MMA para organizar o evento, entendendo que é fundamental 
para o grupo de pesquisadores da instituição integrar-se nas discussões 
sobre energias renováveis no âmbito dos diálogos setoriais Brasil – 
União Europeia.”A troca de informações e o desenvolvimento de projetos 
conjuntos são muito importantes para a consolidação de novas soluções, 
que atendam às demandas da sociedade” enfatizou.
O Secretário de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do MMA, Carlos
 Klink, lembrou que, em 2009, o Brasil assumiu o compromisso de reduzir 
em mais de 35% suas emissões de gás carbônico e outros gases que 
produzem o efeito-estufa. Para tanto, tem investido em medidas como a 
redução do desmatamento, a agricultura de baixo carbono e as energias 
renováveis. Revelou que o MMA está trabalhando na elaboração de novos 
Planos relacionados à mitigação da emissão dos gases do efeito estufa e 
de promoção da sustentabilidade.: o Plano para Indústria; o de 
Mineração; o de Transportes e o de Saúde Pública.” Em todas essas 
iniciativas, a inovação é fundamental para alcançar os objetivos”, 
finalizou Klink. 





 
 
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